quinta-feira, 13 de março de 2008

Mergulho nas águas do blues


Corria o ano de 2002. Era uma noite quente, em Vitória, e Rodrigo saiu para curtir um show num pub da Praia do Canto. Lá, o som sujo das guitarras, através dos amplificadores valvulados, e os magnéticos solos de gaita despertaram nele uma intensa paixão: o blues. Não era somente um show, mas um ritual invocando os espíritos dos velhos bluesmen. A música entranhou-se por seus poros, tomou conta de seu corpo. Sua vida mudaria radicalmente a partir dali.

Jornalista recém-formado pela Faesa, Rodrigo Rezende, 23 anos, fez de sua grande paixão objeto de estudo. Seu trabalho de conclusão de curso, apresentado em dezembro do ano passado, é um livro-reportagem no qual ele conta como o ritmo nascido às margens do Rio Mississippi, entoado pelos negros escravos, nos Estados Unidos, começou a ser feito por músicos no Espírito Santo, desde o final dos anos 80, com a banda Urublues.

Em "Espírito Blues", no primeiro capítulo, o jornalista remonta às origens do gênero musical. A começar pelos tempos da escravidão nos Estados Unidos, passando por suas transformações, até explodir no mundo inteiro. No Brasil, o blues começa a ganhar força nos anos 70 para, uma década depois, dar as caras em território capixaba.

"A idéia inicial do trabalho era fazer um videodocumentário, só que não consegui vender a idéia pra ninguém. Fiquei impossibilitado de fazer tudo sozinho e, de última hora, resolvi fazer o livro, aconselhado pelo meu orientador", conta Rodrigo – que, além de jornalista, é vocalista das bandas Sunrise Blues Band e Hillbilly the Kid.

Sunrise
No segundo capítulo, Rodrigo (mais conhecido como Vovô) narra em primeira pessoa a sua própria trajetória dentro do blues, ao lado dos amigos que o ajudaram a fundar a Sunrise Blues Band. História que começa lá em 2002, após o show a Big Bat Blues Band, no Oil Pub, na Praia do Canto.

"Eu já conhecia o blues, mas aquele foi o meu primeiro contato ao vivo. Ao vivo é diferente! Blues é transpiração, é contato. Quando consegui enxergar o blues ao vivo, ali perto de mim, desencadeou tudo. Foi o dia em que falei: ‘caramba, vou montar uma banda de blues!’", recorda-se.

Para os capítulos seguintes, o jornalista optou pelo formato de entrevista ping-pong, antecedido por um pequeno texto introdutório. De acordo com Rodrigo, a escolha foi resultado de muita conversa com seu orientador. Ele revela que o formato o ajudou, por ser mais prático, uma vez que o tempo que tinha para concluir o trabalho era muito curto (um semestre).

"Além disso, é um formato que gosto de ler. Acho que é mais direto, e você sente a presença do entrevistado. Por conta disso, achei que as pessoas que lessem iriam se interessar também."

Apesar do prazo, realizar esse trabalho foi muito fácil, segundo Rodrigo, pois ele já conhecia as pessoas que fizeram a história do blues no Estado muito antes de pensar em escrever o livro-reportagem. "Eu já tinha uma intimidade com todos os entrevistados, que foram superacessíveis. A produção do livro foi natural, um bate-papo além da conta."

Teoria
A base teórica para a produção de "Espírito Blues" foi os livros "Páginas Ampliadas" e "O que É Livro Reportagem?", ambos de Edvaldo Pereira Lima, e "Livro-Reportagem", de Eduardo Belo. Rodrigo explica que a leitura das obras de Pereira Lima ajudaram-no a perder o medo de falar sobre si mesmo, no livro, e narrar sua participação na história.

"Ele fala que, para escrever um livro-reportagem, o jornalista deve participar. É o que ele chama de observação participativa. E isso eu já fazia, antes mesmo de ter a idéia de escrever o livro. A partir daí, fiquei mais solto para escrever. Sem me culpar, por achar que ia me promover. Foi uma vantagem, pois não precisei me inserir num contexto para falar dele. Já fazia parte", conta Rodrigo, que pretende ampliar sua pesquisa e, futuramente, publicá-la em livro.

Publicado em A Gazeta, Caderno Dois, Coluna Campus, em 11 de março de 2008, texto de Tiago Zanoli.

2 comentários:

chagasblues disse...

Parabens Vovô, o blues agradece pela iniciativa de contar a história.
...agora "bom-vivant"... hehehe!

Douglas Chagas

Anônimo disse...

Vovô... eu me delicio com as histórias do teu livro...