CULTURA. A faca que desliza no violão, a mesma que descasca uma fruta ou talha o pescoço de alguém, é parte dos instrumentos musicais desse sujeito, o bluesman. Ele narra a sua história, canta e faz melodias que traduzem o seu cotidiano baseado nas interpretações como as dos sons da natureza e na emulação dos ecos à sua volta. O barulho do trem, o cantar de um galo ou o martelar das marretas e das balls and chains (as esferas e as correntes de ferro que o negro carregava atadas aos seus pés para não fugir das prisões) viram elementos da música.
Mas a criatividade de perceber música nos sons orgânicos foi um artifício que o negro usou para driblar as limitações que o branco impunha na época. Antes do formato tradicional, feito com a harmonia do violão, do canto e das respostas de outros instrumentos rudimentares nos intervalos das progressões, o blues rural teve somente os gritos guturais como manifesto musical. É que, no período da escravidão, o negro foi impedido de usar instrumentos de percussão ou de sopro. O Big Boss Man, como era chamado o dono das terras, tinha receio de que os escravos usassem os sons como forma de código para incitarem rebeliões. Dessa forma, a voz se tornou o instrumento musical do negro, e as worksongs ou canções de trabalho deram o ritmo para o escravo produzir, tranqüilizando o feitor.
Mas a criatividade de perceber música nos sons orgânicos foi um artifício que o negro usou para driblar as limitações que o branco impunha na época. Antes do formato tradicional, feito com a harmonia do violão, do canto e das respostas de outros instrumentos rudimentares nos intervalos das progressões, o blues rural teve somente os gritos guturais como manifesto musical. É que, no período da escravidão, o negro foi impedido de usar instrumentos de percussão ou de sopro. O Big Boss Man, como era chamado o dono das terras, tinha receio de que os escravos usassem os sons como forma de código para incitarem rebeliões. Dessa forma, a voz se tornou o instrumento musical do negro, e as worksongs ou canções de trabalho deram o ritmo para o escravo produzir, tranqüilizando o feitor.
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Mais um trecho de Espírito Blues. Livro de Rodrigo Rezende.